Publicação destinada à psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e estudantes
Tema: Psicologia Clínica 4.0 > Texto: 02
Por Alexandre Liber
06 de Janeiro de 2025
Para dar início a nossa reflexão,
transcrevemos abaixo os primeiros parágrafos do interessante artigo publicado
em 1º de agosto de 2024 no Jornal PSI nº.
205, um dos principais veículos de comunicação do Conselho Regional de Psicologia de São
Paulo.
“Toda profissão define-se a partir de
um corpo de práticas que busca atender demandas sociais”. A frase que abre a
apresentação do atual Código de Ética da Psicologia evidencia como as relações
entre as pessoas são a base para diferentes dinâmicas estabelecidas na
sociedade. São formatos que se constituem a partir de anseios, condições e
necessidades, e acompanham valores e costumes que estão em constante processo
de transformação. Mas se a mudança é inevitável, o que esperar diante da atual
conjuntura de atualização constante? Como lidar com Inteligência Artificial,
dispositivos de realidade virtual e experiências imersivas? A profissão está
preparada para a hiperconectividade e o excesso de informações e de interações
no ambiente digital?” (CRP-SP, 2024, p. 5-7)
É evidente que vivemos um tempo
de profundas transformações, em que perceber e assimilar mudanças não é apenas
uma escolha, mas sim uma necessidade. Nós, como profissionais da Psicologia,
precisamos nos perguntar: estamos prontos para os novos paradigmas tecnológicos
e os impactos – reais e potenciais – que eles trazem para as interações humanas
e as estruturas sociais?
Compreender essas mudanças vai
além de um exercício teórico; é um caminho para identificarmos as oportunidades
e ameaças que emergem ao nosso redor. Esse entendimento também nos ajuda a
mapear nossas próprias forças e fraquezas, tanto como indivíduos quanto como
categoria profissional. E, entre as mudanças mais inevitáveis e transformadoras
do nosso tempo, está a revolução trazida pela Inteligência Artificial (IA).
A IA já está moldando nossa
realidade de formas que, há poucos anos, pareceriam ficção científica. Seu
potencial de revolucionar áreas como medicina, educação, indústria e, claro, a
Psicologia, é imenso. Vemos a promessa de diagnósticos mais precisos, automação
de tarefas repetitivas ou intelectuais, e o desenvolvimento de tecnologias
inéditas que podem beneficiar – ou prejudicar – toda a sociedade. Mas junto a
essas possibilidades vêm também os desafios: até que ponto entendemos os
limites éticos, legais e técnicos da IA? Como garantir que ela seja
desenvolvida de maneira responsável e inclusiva, beneficiando a sociedade como
um todo, e não apenas um grupo restrito de privilegiados?
Sabemos que a Psicologia não está
isolada dessa revolução. Pelo contrário, ela está no centro das discussões
sobre como a IA pode afetar a subjetividade humana. Precisamos, como categoria
profissional, olhar com seriedade para essas questões. O que significa para a
Psicologia, a Psicologia Clínica e, mais especificamente, para a Psicoterapia
Individual, incorporar ou interagir com ferramentas baseadas em IA?
Ignorar ou minimizar essa
transformação seria um erro grave. O risco de nos tornarmos obsoletos ou
cristalizados em práticas anacrônicas é real. Precisamos nos posicionar:
compreender a amplitude dessa revolução, explorar suas implicações e decidir,
com responsabilidade, como integrar de forma legal e ética esses avanços à
nossa prática.
Por outro lado, reafirmamos nosso
compromisso com o respeito à liberdade de escolha de cada ser humano. Afinal, o
protagonismo de quem busca o cuidado psicoterápico nunca pode ser
negligenciado. Então, mais uma vez, nos perguntamos: estamos prontos para essa
nova era? Nossa profissão está preparada?
Referência:
CRP-SP. Conselho Regional de Psicologia de
São Paulo. Os rumos dos próximos 50 anos:
como as mudanças sociais e econômicas devem impactar no exercício psicológico.
Jornal PSI, São Paulo, n. 205, p. 5-7, 01 ago. 2024. Disponível em: https://crpsp.org/uploads/impresso/354626/yRWbQV8VUw0MEQ7h3xk0tK6u5onokgOi.pdf . Acesso em: 08 jan. 2025.
